Estudo inédito do Itaú Educação e Trabalho reforça a necessidade de o Brasil criar uma cultura de valorização da formação técnica profissional. A pesquisa “Potenciais efeitos macroeconômicos com expansão da oferta pública de ensino médio técnico no Brasil” mostra o impacto transformador da vida dos jovens e da economia brasileira a partir da adoção do modelo de ensino. O levantamento aponta que o PIB do Brasil poderia crescer 2,32% se fosse triplicado o acesso ao ensino médio técnico no país. Além disso, os egressos do Ensino Profissionalizante Técnico (EPT) ganham, em média, 32% a mais que os jovens do Ensino Médio tradicional.
Apesar do potencial da EPT, o Brasil investe pouco nessa modalidade de ensino. Nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), segundo o estudo, a oferta de ensino técnico alcança, em média, 32% dos concluintes do ensino médio. No Brasil, a EPT atende a apenas 8% do total de concluintes do ensino médio no país. O Novo Ensino Médio, criado em 2017, e atualmente em processo de implementação nas redes estaduais de todo o país, tem tudo para mudar o patamar da educação profissional no país ao integrar o Ensino Técnico como um dos itinerários formativos. A flexibilização do Novo Ensino Médio, no entanto, não é suficiente para dar o salto que o país precisa na formação técnica. É necessária ainda a mobilização da sociedade para tornar o ensino técnico uma prioridade.
A superintendente do Itaú Educação e Trabalho, Ana Inoue, defende que o poder público, o setor produtivo e a sociedade em geral precisam valorizar e investir na ampla oferta qualificada da EPT. A modalidade de ensino está alinhada com as tendências do mundo do trabalho, oferece oportunidades de inserção digna produtiva para os jovens e contribui com o progresso do país. Segundo Inoue, é urgente colocar a Educação Profissional e Tecnológica no centro da estratégia de desenvolvimento socioeconômico brasileiro.
O estudo do Itaú Educação e Trabalho analisou os potenciais impactos macroeconômicos de longo prazo com a ampliação do ensino médio técnico na educação pública do Brasil, e concluiu que o ensino técnico eleva a escolaridade, impacta na geração de emprego, na produtividade, no aumento da renda e garante direito à educação e ao trabalho. E não elimina o acesso ao ensino superior numa etapa posterior.
A pesquisa aponta ainda que entre as pessoas de 24 a 65 anos de idade que estão trabalhando ou procurando emprego, apenas 0,9% têm o ensino médio técnico (concomitante ou integrado) como maior grau de instrução obtido. Apenas 7,5% das matrículas do ensino médio estão articuladas com a educação profissional técnica de nível médio. O estudo considerou dois cenários. O primeiro, duplicando o acesso ao ensino médio técnico, aumentaria o PIB em 1,34%. O segundo, triplicando a oferta, geraria um ganho de 2,34% no PIB.
Além disso, mais profissionais com formação técnica estão inseridos no mundo do trabalho. A taxa de desemprego entre eles é, em média, de 7,2%, enquanto entre as pessoas que possuem somente o ensino médio tradicional é de 10,2%. A expansão qualificada do ensino médio técnico, segundo a pesquisa, pode reduzir em 5,4% a proporção de trabalhadores com ensino fundamental ou ensino médio tradicional que geralmente estão em postos de trabalho mais operacionais.
Enquanto a ampliação da formação técnica não é prioridade, o país vive um “apagão” da mão de obra. Levantamento feito pela Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostra que o Brasil é o terceiro em carência de trabalhadores qualificados – cerca de 63% das empresas com mais de 10 trabalhadores têm esta carência.
O estudo calcula que, tomando como base o índice Gini, que aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos, triplicar o acesso à EPT pode reduzir o indicador de 0,58 para 0,55. Pelo índice Gini, o valor de zero representa a situação de igualdade, sendo ideal que se percorra um indicador cada vez menor.
É importante destacar que o baixo percentual de ofertas de ensino técnico no ensino médio é resultado da cultura de valorização do ensino superior. Um processo histórico da nossa educação que priorizou, por décadas, um ensino médio desconectado do ensino técnico e profissional.