Muito se discute no governo, parlamento e sociedade sobre qual modelo
tecnológico para o 5G devemos implementar no Brasil, mais notadamente entre
as tecnologias dos EUA e da China. Com desempenho 20 vezes mais rápido e
confiável, as possibilidades associadas ao 5G vão bastante além do usuário médio.
E é aí que reside a necessidade do país ter muito critério na escolha.
A nova tecnologia, venha de onde vier, deve virtualmente acabar com qualquer
delay (tempo de demora entre comando e ação) e, além de eliminar a necessidade
de internet via cabo ou WiFi, trará à nossa realidade mudanças profundas em
comunicação, transporte, transações financeiras e segurança, e em quase tudo de
nossa vida cotidiana. Poderemos andar em carros sem motorista, fazer
pagamentos com um simples comando de voz e aeroportos não precisarão mais
de controladores de vôo humanos, por exemplo.
Dessa forma, a vida de praticamente todo o país passará pela nova conexão móvel,
o que é fantástico, mas que, porém, requer muito cuidado quanto à
vulnerabilidade que este avanço representa. Todos nós já sabemos que nossos
aparelhos de telefonia celular já obtem e utilizam comercialmente nossos dados e
hábitos de consumo. Ao alcançar este novo patamar, a nação originária da
tecnologia pode interferir em todo o fluxo de dados, inclusive de comandos e ações
militares, “desligar” um país inteiro ou mesmo agir contra sua estabilidade
política, mediante os interesses geopolíticos.
Sob a preocupação com o que pode substituir o poderio militar como principal
vetor de força na política internacional – informação –, o governo federal pretende
realizar o leilão do 5G em setembro deste ano. Os principais concorrentes são
empresas dos EUA e China. Já se sabe que, mesmo que um concorrente norteamericano
vença, é praticamente impossível que sua tecnologia não conte, em
grande parte, com componentes chineses, e isso é muito importante no tabuleiro
geopolítico em torno do 5G.
Pensando nisso, empresas americanas e europeias que atuam neste mercado já
testam o modelo tecnológico aberto, o openRAN, onde os contratantes terão acesso
e controle total à tecnologia 5G, ao contrário da chinesa Huaiwei que, além de
manter sua tecnologia fechada com dados armazenados em data centers, cogitase
ter interferência do Partido Comunista, pois a Lei de Segurança Nacional
Chinesa permite que o governo acesse os dados coletados, caso considere que os
temas tratados interferem na soberania do país.
Portanto, para muito além de seu uso comum para se jogar videogames ou baixar
vídeos, a implantação da tecnologia 5G trata em grande escala da soberania
nacional, uma vez que praticamente tudo em nossas vidas, de aviões autônomos a
cirurgias feitas por robôs, transitará pela rede móvel. Assim, é de extrema
importante que o Brasil, seja qual for a tecnologia escolhida, detenha o controle
total da “chave on/off” do seu 5G, não permitindo a interceptação e interferência
nos dados transitados pela tecnologia móvel.