Roberto Campos, um dos maiores expoentes do liberalismo no Brasil

Por Ighor Branco.

Tido como um dos maiores expoentes do liberalismo no Brasil, Roberto Campos foi um economista, professor, escritor, diplomata e político brasileiro. Visto como uma figura icônica, Campos dedicou sua vida à defesa dos princípios liberais e ao combate das ideias socialistas, sobretudo, do esquerdismo brasileiro “de botequim”.

Assim como outros autores, Campos iniciou sua trajetória do outro lado do quadrante ideológico. Em suas próprias palavras: “Em minha juventude também fui socialista. Acreditava no poder do estado para reformar o mundo, se não criá-lo de novo. Cheguei mesmo, em vista de meu ímpeto crítico nas Nações Unidas, a ser chamado de comunista pelo ilustre ministro Oswaldo Aranha”.

Sua transição ao liberalismo aconteceu enquanto servia o Itamaraty nos Estados Unidos, onde fez sua pós-graduação em Economia pela George Washington University e se encantou pelas reflexões propostas por Friedrich August von Hayek – economista e filósofo austríaco que já foi abordado nessa série.

ATUAÇÃO EM GOVERNOS

Mais maduro e de volta ao Brasil, Campos atuou por diversas vezes como assessor e membro de equipes econômicas de diferentes governos. Com Getúlio Vargas, Campos auxiliou na elaboração do projeto de lei para a criação da Petrobras – no seu desenho original, destacou a necessidade da criação de uma empresa com participação estrangeira e sem monopólio estatal.

Campos também auxiliou na criação do do BNDE, atual BNDES, banco de desenvolvimento criado para suprir a falta de crédito no país. No entanto, com a corrente ausência de critério para alocação de recursos e privilégio de alguns setores, o desenho institucional, pensado pelo economista, foi prejudicado.

Ademais, Campos também atuou como coordenador no plano de metas de JK, onde sugeriu que fosse feito um plano mais amplo, visando o combate ao déficit público e o equilíbrio das contas externas através de uma reforma cambial – ambas propostas negadas por Juscelino.

Ainda auxiliou Jânio Quadros nas tratativas com credores internacionais e foi ministro do planejamento no governo Castelo Branco, em que, junto a Octavio Gouveia de Bulhões, foi responsável pela modernização do Estado brasileiro, a instituição do PAEG, o controle da inflação, a liberalização da lei de remessas de lucros e a criação do Banco Central do Brasil.

ATUAÇÃO NA DIPLOMACIA

Além de atuar como ministro, no que diz respeito à diplomacia, Roberto Campos serviu por duas vezes como embaixador do Brasil, primeiro no governo João Goulart em Washington e posteriormente como embaixador em Londres no governo Geisel.

Em Washington, tentou aproximar o Brasil do governo de John Kennedy, o que facilitou num primeiro momento o acesso do Brasil a créditos de origem internacional. Para amenizar os atritos, Campos até organizou um jantar entre João Goulart e Kennedy, com o objetivo de sanar as especulações ideológicas sobre o governo brasileiro.

Enquanto esteve em Londres, pôde observar de perto os avanços do programa de governo de Margaret Thatcher, o que aprofundou ainda mais suas concepções liberais.

ATUAÇÃO NA POLÍTICA

Enquanto parlamentar, Campos exerceu mandato por oito anos como senador por Mato Grosso e oito anos como deputado federal pelo Rio de Janeiro. No ápice do plano Cruzado, no governo Sarney, foi um dos poucos críticos ao plano.

Durante a Constituinte de 88, o diplomata afirmou que se sentia como se fosse o único parlamentar a defender a economia de mercado e as ideias liberais. Sendo assim, não teve sucesso em nenhuma de suas propostas, tanto na Câmara como no Senado. Dentre elas:

– Livre negociação salarial no setor privado e estabelecimento de medidas de flexibilização do mercado de trabalho para evitar o desemprego;

– Extinção, como empresas estatais, das que forem deficitárias, privatizando-as ou liquidando-as;

– Criação de contratos de trabalho simplificados para facilitar novos empregos.

Ao terminar seu mandato, Campos fez um discurso retrospectivo e crítico:

“Minha melancolia não vem de saudades antecipadas de Brasília, cidade que considero um Bazar de Ilusões e uma usina de déficits, e sim do reconhecimento do fracasso de toda uma geração – minha geração – em lançar o Brasil em uma trajetória de desenvolvimento sustentado. Continuamos longe demais da riqueza atingível e perto demais da pobreza corrigível. A melancolia vem também da constatação de nossa insuportável ‘mesmice’. Quando cheguei ao congresso em 1983, os temas cadentes do momento eram moratórios e recessão. Dezesseis anos depois, quando me despeço de dois mandatos como deputado federal pelo Rio de Janeiro, os temas voltam a ser recessão e crise cambial. Isso mostra que o Brasil, conquanto capaz de saltos de desenvolvimento não aprendeu a tecnologia do desenvolvimento sustentado. É um saltador de saltos curtos, e não um corredor de resistência.”

PENSAMENTOS E BANDEIRAS MEMORÁVEIS

Roberto Campos é conhecido por suas célebres frases, com uma extrema capacidade de sintetizar suas reflexões a respeito do Brasil e do liberalismo. Algumas delas:

“As reformas não conseguirão piorar nosso manicômio fiscal. Mas, como dizia um engraxate da Câmara, não há perigo de melhorar.” – O economista fala sobre a ineficiência das proposições de mudanças nas regras fiscais. Campos acreditava que pequenos setores improdutivos da economia brasileira detinham muitos privilégios.

“É divertidíssima a esquizofrenia de nossos artistas e intelectuais de esquerda: admiram o socialismo de Fidel Castro, mas adoram também três coisas que só o capitalismo sabe dar – bons cachês em moeda forte, ausência de censura e consumismo burguês. São filhos de Marx numa transa adúltera com a Coca-Cola.” – O escritor ácido joga luz às contradições de parte da classe intelectual e artística do país, denunciando a hipocrisia corrente de uma parcela da sociedade que nega as benfeitorias do advento da liberdade.

“A universidade brasileira apresenta um superávit ideológico e um déficit pragmático.” –

O professor também critica o demasiado peso ideológico da educação brasileira, sobretudo de esquerda e ocupante das universidades. Na visão do autor, a educação como um todo fica prejudicada quando só uma esfera política tem voz e negligencia as questões práticas da sociedade.

Por último, as reflexões de Roberto Campos ainda se fazem atuais e úteis para analisar o Brasil. Este legado seguirá inspirando os liberais que virão, assim como na sua obra autobiografia, intitulada “A lanterna da popa” – é preciso luz para iluminar as mentes que navegam para o futuro do Brasil.

Ighor Branco, acadêmico de Ciência Política da UFPE. 

FONTES:  

- CAMPOS, Roberto. A Lanterna na Popa. Brasil: Boitempo; Topbooks; 5ª edição. 22 de maio de 2019.

- CAMPOS, Roberto. A constituição contra o Brasil: Ensaios de Roberto Campos sobre a constituinte e a constituição de 1988. Brasil: LVM Editora; 1ª edição. 1 de janeiro de 2018.

- DRUMMOND, Aristóteles. O Homem Mais Lúcido do Brasil - as Melhores Frases de Roberto Campos. Brasil: Resistencia Cultural Editora; 2ª edição. 1 de janeiro de 2019.

- Homenagem a Roberto Campos, ícone do liberalismo - Instituto Liberal

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